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terça-feira, 6 de novembro de 2007

16 anos a sonhar com a poesia

De certeza aprecio a poesia a mais tempo. Mas tenho a certeza que 1991, ficou marcado para mim por ter abraçado a poesia como uma amada, que por mais que queira não a posso abandonar, pois andamos como um rio e sua margem até ao mar.

Em 1991, eu não estava preocupado com a poesia, mas com a Filosofia, aliás, anos atrás já me preocupava com a Filosofia devido a alguns livros de Psicologia que vieram parar à minha mão e, eu devorava com imenso prazer. A reflexão filosófica atirou-me aos braços da poesia. Aceitei os braços, porque constatei que estava, mais acelerado na compreensão da poesia, ou pelo menos julgava que sim, mas piada é que não ganhei nenhum prémio no único concurso de poesia em que participei, mas ganhei um prémio de prosa na escola secundária Josina Machel, cujo prémio nunca parou em minhas mãos. E depois ganhei um prémio científico. A Poesia que estava comigo em sonhos, continuava comigo e me atormentava porque exigia cada vez mais tempo e eu não conseguia conciliar com o curso de engenharia técnica mecânica e, nem a mudança para a electrotecnia resolveu, porque a poesia surgia imponente, em tudo o que fazia.


Apesar da poesia perturbar, 1991 foi bom, comecei a conhecer os poetas Norte americanos que estudo até hoje. Ezra Poud, Ts Elliot, WCW sobretudo, mas também Witman, Ferlinguethi um beatnik que me arrastou para o mundo do Jazz. De Poud já sabia da importância da música para que a poesia, é Poud o quem diz " a poesia se estraga quando se afasta muito da música como a música se estraga quando se afasta demasiado da dança". Os betniks deram-me a música. Justificaram-me, como os dadaitas deram-me o sentido de humor.

Conhecer Maiyakovski e Neruda foi também bom, sobretudo o primeiro por razões obvias para alguém que escrevia poesia e queria declamar, e declamei alguns textos, quando junto com o Celso Manguana andava pelos bares da baixa, e conhecemos o declamador de poesia Jaime Santos, quando o conflito armado ainda não havia findado. Mas foi sob a inspiração do filme "the Doors" de oliver Stone que achei que podia declamar com alguma competência, antes achava que mesmo com o conhecimento dos dadaístas, que continuo a respeitar, não estava preparado. Mas os dadaístas ensinaram-me muita coisa, o sentido de humor sobretudo. Mas não deixarei de referir o surealismo, porque tive que ultrapassar o dilema, o poeta escreve porque está inspirado ou escreve porque quer escrever? os surealistas ensinaram-me a escrita automática. de essa altura mesmo sem inspiração sento e escrevo, escrevo e depois arranjar o que se escreveu.

Depois sucederam-se autores, foram buscas encantadoras, porque sempre que sentia faltar algo, os autores apareceriam como se fosse um encanto. Foi a altura mais misteriosa para mim, conseguir encontrar bons autores sem ter ninguém vivo a me orientar. Seguir apenas o que a minha consciência mandava, apalpava terrenos experimentava, aprendia apenas com o que os mestres escreveram. Foi bom não ter tido mestres a me importunar no meu dia a dia em papos de cafés em Maputo. Foi o caminho que encontrei, foi o que segui, mas penso que de certeza é sempre bom ter alguém com quem conversar. Conversei muito com o Celso Manguana. Falávamos sobre tudo, na altura acreditávamos que estávamos avançados para a nossa geração, tínhamos boas bibliotecas individuais. Posteriormente conhecei o Augusto, este surpreendeu-me na a rapidez com que começou a devorar os livros. Posso dizer que ele têm bons conhecimentos de poesia, de modo que vale a pena sentar com ele num café e falar. Mas conheci mais pessoas que de vez em quando quero pretexto para a poesia penso nelas, como o Ruy Ligeiro, o Folige, o Muhai entre outros. Foi o que o mundo da poesia deu-me em Maputo. A Poesia deu-me também a possibilidade de conhecer a minha única amiga poeta a Mafalda Leite. A poesia foi mais reconfortante que a academia onde estudei que para alem de grandes coisas ensinou-me a baixeza e torpeza.

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